quinta-feira, agosto 25, 2005

EXISTE ESPERANÇA, Katy

EXPLICAÇÃO DA ETERNIDADE




devagar, o tempo transforma tudo em tempo.
o ódio transforma-se em tempo, o amor
transforma-se em tempo, a dor transforma-se
em tempo.

os assuntos que julgávamos mais profundos,
mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis,
transformam-se devagar em tempo.

por si só, o tempo não é nada.
a idade de nada é nada.
a eternidade não existe.
no entanto, a eternidade existe.

os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram eternos.
os instantes do teu sorriso eram eternos.
os instantes do teu corpo de luz eram eternos.

foste eterna até ao fim.

José Luís Peixoto em A Casa, a Escuridão

quarta-feira, agosto 24, 2005




Ás vezes tento esquecer-te. Ás vezes, fecho os olhos e tento não pensar em nada, só no negro do vazio a engolir tudo. A engolir memórias. A engolir sonhos. A engolir os nossos sítios sagrados. A engolir os momentos em que num sussurro dizias as palavras.
A engolir-te e a engolir-me lançando-nos para diferentes sítios de escuridão...
Mas, tudo isto, dura a eternidade de um segundo. Daqueles que passam rápido. Daqueles segundos que passavam quando estavas a meu lado. E quando abro os olhos, lá estás tu ainda, como estavas antes, quando as coisas eram perfeitas porque eram nossas. E estás a sorrir... Ainda não esqueci o teu sorriso, como esquecê-lo? : o sorriso infantil de lábios cerrados, para não denotar a imperfeição dos teus dentes. E como eras perfeita!! Eras a felicidade, mas mais feliz! Eras a beleza pintada pelo Criador de deus!
E eras minha...


Acho incrível a forma como te idealizei.. Tu não eras assim porque ninguém é assim... E no entanto tenho a certeza que todas as pessoas que amarei um dia serão como hoje te descrevo. O amor não existe nos outros.. É um padrão... Uma idealização nossa!! Não depende de mais ninguém. Sei agora que posso ser feliz sozinho ou com qualquer outra pessoa.
Sei que posso ser feliz...


Ás vezes olho-me ao espelho e inspiro com força até o muco verde me descer à boca. De seguida lanço-o ainda com mais força contra o meu reflexo. Vejo a gosma verde escorrer-me pela cara e sorrio.

Nesses momentos sou feliz.

"Brindemos, doce decadência.."


Fogo? Vocês sabem lá o que é o fogo!

Quando te vais embora, é como se o meu corpo chorasse. Sento-me num dos cantos da sala, aquele que está a arder. Entrego-me a ele, ao fogo, como me entreguei a ti. E sinto-me podre e gasto. A vergonha cala-me os lamentos para ser ela a falar. Quem és tu para fingir que amas?, diz ela, Mereces a solidão dessa música triste e o fumo sufocante desse cigarro. Até reconheceres que és uma sombra fica aí, nesse canto da sala, porque as pedras não ardem, porque as pedras não amam e magoam quem por elas se sente fascinado.

Para ti

segunda-feira, agosto 22, 2005

FOGO

Chegámos à cidade no dia em que o fogo chegou à cidade. O fumo, as chamas, o inferno todo, e nós voltar para casa depois de um fim de semana inesquecível num sitio de que não me recordo. Éramos cúmplices inocentes de uma traquinice qualquer, nada nos importava mais do que sentirmos a nossa presença a ser partilhada entre nós... Éramos três, três elementos de uma felicidade provisória.


O Quarto elemento chegou, o Fogo.. e lentamente consumirá a felicidade daqueles dias até que as nossas memórias se dissolvam como cinzas tocadas pela mais leve brisa que soprar nas velas de um veleiro em direcção a um porto seguro..

quinta-feira, agosto 18, 2005



Estou preocupado... Há dias em que acordo. Há dias em que, quando abro os olhos, acordo. E é nesses dias, somente nesses dias, que de facto vejo. O que hoje vi perturbou-me e não podia deixar de partilhar convosco a natureza dessa perturbação...Peço-vos que, uma vez por outra, acordem. Peço-vos que, uma vez por outra, se deixem preocupar pelo que vêm quando abrem os olhos..




Larvas atarefadas
em devorar o fruto
(em tempos puro),
no qual nascem e crescem,
são pessoas animadas,
por motivações obscuras
que das fábricas descem.

E, por cada golfada de fumo
que das fábricas se ergue,
há um pedaço único do fruto
que para sempre se perde.

E, cada larva,
vivendo em casa
como um respeitável nobre,
faz com que
um pouco do puro
se torne podre.

Mas não façamos nada a esse respeito,
e quando deste fruto podre só restar merda
rezemos p’ra que nesse dia sejamos moscas
p’ra dele podermos retirar proveito!
Sérgio Oliveira

quarta-feira, agosto 17, 2005




Nenhum mistério: apenas certas pessoas não gostam de ser indecentes. O coração não é só uma víscera tenra. Há um sistema moral algures na parte mole do corpo.
Gonçalo M. Tavares em Um homem: Klaus Klump



Mostraste-me o mundo,
Para nele me veres sofrer.
Mostraste-me a vida,
Para me poderes ver morrer.
E quando te chamava Deusa
E tu respondias a sorrir,
Via-te capaz de criar,
E nunca de destruir.

Por isso o amor é cego!
Porque o amor é uma ideia.
E as ideias, as pessoas e os pecados.
Nascem de olhos fechados.
Julgando ser de sereia,
O primeiro canto ouvido.

Pode isto não fazer sentido,
Podem ser estas, palavras vazias,
Se quem diz um dia ter amado,
Se tenha de facto preocupado
Em não louvar todos os dias
A natureza de um amor,
Quando certeza tem
Que só provocará dor.

Sei que não me amaste,
E eu, se te amei menti,
Pois pelo modo que me deixaste
Sei que cada um só se ama a si

Pois, amar é dizer a sorrir
As palavras que alguém quer ouvir,
Com a consciência que para agradar
É necessário mentir.
Tal como para chorar
É necessário sentir.

Amar,
Não vale os esforços,
É o fim de uma estrada
E digo, sem remorsos,
Que o Amor não vale nada!
Sergio Oliveira

domingo, agosto 07, 2005


LC cai de pára-quedas

Bom, desde já apresento-me. LC. Pronto, já está!
Eu e o elementar somos amigos de longa data.
Quer dizer, 6 anos pode não soar a muito tempo mas o que nós já vivemos juntos, todas as conversas que tivemos, eram capazes de preencher uma vida; e dar-lhe sentido. É incrível como as pessoas entram e saem da nossa vida sem que tenhamos algo a dizer, é ainda mais incrível aquelas que ficam de vez, para sempre, a nosso lado. Obrigado Sérgio.
E como este blog é suposto ser sobre o fulcro das matérias e das questões, e como eu tenho a mania que sei escrever, aqui está algo que escrevi quando regressei de uma viagem muito especial, em que personalidades ganharam forma e as pessoas revelaram-se. Sabem, as pessoas são sempre mais simples do que parecem, podiam muito bem ser definidas por um dos elementos. Terra, Fogo, Água, Ar, qual és tu?


Sinto nas pálpebras fechadas o Sol apagado que me faz não querer abrir os olhos à inevitável realidade do mundo. Ainda tenho nos ouvidos sons de risos e vozes doces de quem comigo viu o Sol sem medo. Ainda tenho nas mãos o vazio de corpos que abracei ao Sol. O meu coração ainda bate como no dia em que os tive nos braços.
Para trás deixo as coisas que vi tal como as encontrei: sem nós. Vai estar lá a casa vazia intocada, a água imóvel intocada, vazias de nós. O Sol que foi não o será mais, os risos já não serão senão nos nossos ouvidos teimosos, os abraços vão permanecer apenas na lembrança das nossas mãos. Deixemos a memória ser viva em nós sem que o nós perda o significado. Vamos partir sim, mas com a certeza de que tudo voltará a acontecer na nossa mente, vezes e vezes sem conta; pois sempre que me lembrar dos nossos risos, sorrirei outra vez; e onde quer que esteja, sentirei o peso dos dias com uma enorme leveza. Vamos e partamos depressa porque agora é a vez de outros verem o Sol da forma como nós o vimos um dia...
(Memória, por Luís da Cunha)

sábado, agosto 06, 2005



Água


É um facto que só nos lembramos das coisas quando as não temos.
De igual modo, só nos apercebemos que não temos algo, quando esse algo nos é absolutamente essencial.
O que é verdadeiramente essencial é aquilo de que a nossa vida está de algum modo dependente.
Hoje lembrei-me da água




Gota de chuva


A tempestade acabou..
a última gota de chuva
desapareceu na terra húmida..
e com essa gota..
toda a minha vida.

Sempre quis que a vida fosse simples
como a queda de uma gota de água
onde não existisse morte,
nem merda, nem medo, nem mágoa.

Só o simples movimento,
eterno em cada momento,
de uma lágrima angelical,
lançada como semente,
do mágico e do transcendente.

Mas agora que sei,
que a última gota
desapareceu na terra sem norte,
agora que sei que a semente
do transcendente
é planta sem suporte,
eu queria a mágoa;
eu queria o medo;
eu queria a merda;
eu queria a morte;

Porque querer a morte
é ser deste mundo!
porque querer a morte
é estar, vivo por um segundo.



(Gravura: Water, In Praise of Hands de Naoko Matsubara / Poema: Gota de Chuva de Sérgio Oliveira)

sexta-feira, agosto 05, 2005

Ar Fogo Terra e Água!
Um espaço que espero que espelhe preocupações elementares de um indivíduo, do indivíduo.
Um espaço onde os elementos se reúnam para lançar questões, medos esperanças, pontos de vista.
Um espaço cujas iniciais sejam afta!

Porque sou um sonhador! Espero que um dia este seja um dos blogs com mais relevância no panorama nacional! No fundo no fundo sonho que o nome deste espaço ande espalhado pelas bocas do mundo... Esperem.. Ah pois.. isso já foi conseguido... Ainda assim, esta pequena vitória é só mais um passo e, como tal, não nos tira a vontade de chegar ainda mais longe no despertar das consciências para elas próprias..

E com isto:
Declaro inaugurado este Blog

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