sábado, outubro 22, 2005


"Pois é meu filho...", e assim preenches tu os silêncios prolongados. Conheço-te os traços, as rugas, tão bem... "Pois é meu filho..." nessa voz tremida que eu conheço tão bem. Distraiu-me por um segundo, as pupilas dilatam e vais para longe. Para onde vais nesses momentos, Emília? Tens um sorriso eterno gravado nas dobras da tua pele, para onde vais tu?
Não temes, descascas essas batatas sem medo. Nada pode perfurar esses dedos calejados, essas mãos... Tens uma casca imensa a envolver-te.
"Tudo que tem um começo tem um fim", e que obcessão é essa pela morte? Quando cavas a terra fértil parece que cavas a tua sepultura. Que procuras mulher? A tua mente... Sete palmos abaixo da superfície, é lá q ela está.

*Baseado em Emília, uma curta-metragem da COLA (Colecção De Trabalhos Audiovisuais Da Lusófona)

























És a facilidade frágil de uma bola de sabão.
Sabes que a tua dor é só uma parte da dor.
Conheces as batalhas que acontecem por arroz.
És o fogo de artificio, a luz, a magia.

Vives os caminhos traçados na mão.
És a simplicidade mecânica do rufar de um tambor.
Crias valas comuns para que não ouças a voz.
És a chávena de chá, a doçura, a poesia.

Percebes as estrelas e a morte de um irmão.
Curas maleitas com a palavra amor.
Gritas baixinho: “Deus reza por nós.”
És o peso do mundo, o tempo, a água fria.

És a corda no pescoço da humanidade.
És a parte do sonho que não se recorda.
És a prostituta de tenra idade.
És o hálito fétido de quem acorda.

És tão melhor que eu...

domingo, outubro 09, 2005













O fumo do teu cigarro,
Mal apagado,
Escreve poemas no ar.

O fumo do teu cigarro,
Por todo lado,
Faz-me novamente chorar.

Acabaste com tudo.

Olhas o cinzeiro,
Ainda vazio,
Apagas o primeiro
E deixa-lo sozinho.

A vida continua...
...Sem ti...

Eu, o cigarro,
Fui o teu anjo protector,
E neste cinzeiro de barro
Sou eu as cinzas do nosso amor.

sábado, outubro 01, 2005



Quem sou?
Eu sou muito, sou muita coisa.
Sou o sol que me deu vida e a luz que emite,
Sou forte, mais forte do que a minha força o permite,
Sou o prado verde e os animais que nele pastam,
Sou o vento e as folhas que se arrastam,
Sou o pedido e a cedência,
Sou esta alegre indecência, amante da inocência
Perdida.
Eu sou este desejo de ser céu e voar,
Perder as asas — ser peixe — e cair no mar.
Sou a águia que fita a presa,
Sou o ataque de surpresa,
Sou esta angelical chacina
Que apenas a mim vitima.
Sou mais do que as palavras dizem
Ou o que elas realizam,
Sou esta necessidade de ser mais,
E esta vontade de ser tão pouco....
Sou estes sentimentos brutais,
Sou esta capacidade de gritar até ficar rouco
Dizendo:
«Eu sou assim...Eu sou esta luz, este eterno despojo de mim...»

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